Entre céus e história: São Miguel Arcanjo no Monte Gargano e a fé que une dois papas

No dia em que a Igreja Católica celebra a aparição de São Miguel Arcanjo, é escolhido o novo papa

 

Papas: Leão XIV (eleito) Leão XIII (1810-1903)

Todo dia 8 de maio, fiéis do mundo inteiro recordam com devoção a lendária aparição de São Miguel Arcanjo sobre o Monte Gargano, na Apúlia, no sul da Itália. A data remete ao ano de 490 d.C., quando, segundo a tradição católica, o Príncipe da Milícia Celeste se manifestou a um bispo local, dando origem ao mais antigo santuário do Ocidente dedicado ao Arcanjo.

A gruta sagrada, hoje conhecida como Santuário de Monte Sant’Angelo, tornou-se um ponto de peregrinação cristã logo após a misteriosa aparição. Segundo relatos históricos, São Miguel apareceu a São Lourenço Maiorano, então bispo de Siponto, enquanto este rezava na Igreja de Santa Maria Maggiore. Na visão, o Arcanjo teria declarado:

Eu sou Miguel Arcanjo e estou sempre na presença de Deus. Venho habitar este lugar, guardá-lo e provar, por meio de um sinal, que serei seu vigia e custódio.”

Como sinal de seu poder celestial, São Miguel teria curado milagrosamente um nobre ferido por uma flecha. O acontecimento foi interpretado como um chamado divino para consagrar a gruta ao culto cristão. Desde então, o local tornou-se símbolo de proteção espiritual e resistência contra o mal.

Um santuário que atravessa os séculos

Erguido sobre o local da aparição, o santuário transformou o Monte Gargano em um dos mais reverenciados destinos religiosos da Europa medieval. Papas, reis e peregrinos humildes caminharam até lá em busca de milagres, proteção ou simplesmente para contemplar o silêncio sagrado da gruta. De Gargano, a devoção a São Miguel espalhou-se por toda a cristandade, inspirando a construção de templos em sua honra, como o famoso Mont-Saint-Michel, na França.

Devoção à São Miguel

Apesar da passagem dos séculos, a devoção permanece viva. Neste 8 de maio de 2025, milhares de fiéis se reúnem novamente no santuário italiano, participando de missas, procissões e vigílias, renovando o elo espiritual com aquele que, segundo a tradição, “conduz os exércitos de Deus contra o mal”.

Hoje, o mundo inteiro também acompanhou a escolha do novo bispo de Roma, o cardeal Robert Francis Prevost, de 69 anos, que adotou o nome de Leão XIV, sucedendo o Papa Leão XIII (1878–1903). Este foi o primeiro papa a nascer no século XIX e a morrer no século XX, conhecido por suas encíclicas sociais, pelo decreto que consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus e por ter escrito a Oração de São Miguel Arcanjo:

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate,
sede nosso refúgio contra a maldade e as ciladas do demônio!
Ordene-lhe Deus, instantemente o suplicamos,
e vós, príncipe da milícia celeste, pela virtude divina,
precipitai ao inferno Satanás e todos os espíritos malignos
que andam pelo mundo para perder as almas.
Amém.”

Outro ponto que os une é o fato de ambos serem agostinianos. “Sou um filho de Santo Agostinho”, disse Prevost em seu primeiro discurso como papa.

Tradição ou símbolo ainda atual?

A pergunta que muitos se fazem hoje é se a devoção a São Miguel Arcanjo permanece apenas como uma lembrança pitoresca de um passado remoto — ou se continua a ter valor espiritual e simbólico em tempos contemporâneos.

Para muitos católicos, São Miguel representa mais do que uma figura angelical do imaginário religioso. Ele simboliza a luta contra o mal interior e exterior, o combate espiritual diante das crises morais, culturais e sociais do presente. “É um apelo à coragem, à resistência contra a indiferença espiritual e à defesa do bem comum”, afirma o teólogo italiano Don Paolo Rinaldi, entrevistado durante a romaria deste ano.

Além disso, a oração a São Miguel — composta no século XIX pelo Papa Leão XIII após uma visão perturbadora sobre ataques à Igreja — voltou a ser recitada com frequência em várias paróquias, inclusive com o incentivo de pontífices recentes.

Uma fé que atravessa gerações

Neste 8 de maio, enquanto as velas se acendem nas entranhas da gruta e as orações se elevam nas línguas mais diversas, a aparição de São Miguel no Monte Gargano segue viva não apenas na tradição escrita, mas no coração de milhões que ainda confiam em sua proteção.

Entre memória e mistério, fé e história, o Arcanjo do Monte permanece — como prometeu — vigia e custódio de um povo que não esqueceu a força de um sinal.

      Por: Redação Inova News       

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